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PENSE MODA - EVENTO CRIADO PARA DISCUTIR O DNA DA MODA BRASILEIRA

Em sua segunda edição, palestras do fotógrafo Mariano Vivanco, da PR inglesa Mandi Lennard, e participação de profissionais brasileiros de prestígio

Texto: Luigi Torre / About Fashion


MENINAS NA PARALELA

É essencial estar num semana de moda para se ter sucesso?Quais os prós e contras de participais ou não de uma Fashion Week? Como sobreviver e divulgar a marca sem desfilar dentro de um grande evento? Foi para responder todas essas perguntas que sob mediação da jornalista Lílian Pacce, as estilistas Andrea Marques, Cecilia Prado, Carina Duek, Carol Gannon da D’arouche, fecharam o segundo dia do Pense Moda.

A apresentação começou com cada uma delas contando um pouco de sua trajetória pessoal, de como começaram até chegarem onde estão hoje. Todas já tinham uma cera experiência ou envolvimento com moda. Carol trabalhou com ninguém menos que Patricia Fileds (figurinistas do Sex and The City) em Nova York, os pais de Cecília tem uma confecção, Carina Duek é filha de Tufi Duek e Andrea Marques passou 15 anos na direção criativa da Maria Bonita Extra antes de abrir sua própria marca. Todas, com suas marcas bem jovens, não desfilam em nenhum semana de moda, e nem por isso são esquecidas pelo resto da indústria. Vontade de participar de grandes eventos não faltam, como todas disseram. “É um sonho de todo estilista”, como disse Lílian Pacce. “Mas se for para fazer, tem que fazer bem feito”, disse Cecília. “Desfilar numa semana de moda gera uma projeção imensa”, o que pode ser ótimo, como também pode ser bem ruim. Carol, da D’arouche ainda lembra que não faz muito sentido desfilar, sendo que não há condições para produzir em uma escala aceitável aquilo que é apresentado na passarela. Aquela velha história de que nos apaixonamos por uma peça desfilada no SPFW, mas depois quando chegamos na loja ela não está lá. Isso acontece pois um desfile é muito baseado em imagem, e essa imagem nem sempre é o produto que mais vende. Então esse equilíbrio entre o conceitual e o comercial é algo ainda muito complexo – e nem tanto em termos de criação, mas sim de produção – para marcas jovens. Todas reclamaram de como é difícil conseguir bons preços e materiais de qualidades com fornecedores que acabam privilegiando aqueles que compram em larga escala. E se já é difícil sem desfilar, imagina a pressão que seria dentro de um grande evento de moda. Não desfilar também deixa a marca um pouco imune as criticas. Se bem que essa questão ficou meio relativa, já que pareceu difícil medir até onde um comentário ruim pode afetar as vendas de uma marca. Segundo Carol, “a cliente que vai na loja não é afetada, ela não entra no site para saber o que acharam da coleção”. E no fundo faz um pouco de sentido. A critica é muito mais um guia ou termômetro para o mercado de forma global, do que para os clientes em si. E já que não se desfila as principais formas de divulgação ficam divididas entre um bom trabalho de assessoria de imprensa, no contato direto da marca com o cliente, em pequenos eventos como lançamentos e festas, colaborações com profissionais de outras áreas e principalmente pela internet.

UMA NOVA MODA PARA UM NOVO HOMEM

Quem se interessa por moda já deve ter ouvido ou lido que a moda masculina é o segmento que mais promete crescer nos próximos anos. A sociedade está mudando e junto com ela o homem, exigindo que seu guarda-roupa também acompanhe esse ritmo. Porém, a área é ainda muito pouco conhecida e explorada aqui no Brasil, tanto pela imprensa como pela própria indústria. Se a moda feminina ainda engatinha por aqui, dá para imaginar como é a masculina, né? Foi para começar a mudar esse cenário e para entendermos melhor esses novos rumos da moda masculina que o Pense Moda chamou os estilistas Ivan Aguilar, Li Camargo, Vitor Santos; os stylists Thiago Ferraz e Sylvain Justum e o produtor, o consumidor e “target” Cacá Ribeiro e o jornalista Renato De Cara, sob mediação de Jackson Araújo. Logo de cara, Jackson já deu exemplos concretos de como a moda masculina e seu consumo vem crescendo no Brasil. Só em julho as vendas cresceram 1,6%. Somados a uma série de outros dados nacionais e internacionais ficou claro que o assunto é mais do que pertinente. Mas ao mesmo tempo que há esse crescimento parecia ser uma reclamação em comum dos participantes a dificuldade e falta de opção na hora da compra. Segundo Renato de Cara, “não há aqui no Brasil uma preocupação das marcas em oferecer uma experiência mais íntima para o consumidor”. Experiência esta, apontada por Jackson, e depois confirmada por outros participantes, que é uma das que mais cresce nos mercados externo. Mas como foi bem colocado por Sylvain, não podemos deixar de levar em conta o momento da moda masculina no Brasil. Lá fora, a moda masculina anda a passos largos – ainda que muitas vezes de modo bem maniqueísta, mas há uma certa evolução mais aparente. “Aqui temos que pensar primeiro nos detalhes, em pequenas coisas que podem fazer a diferença”, explica. Esse cuidado se deve ao fato do homem brasileiro ter sérios problemas quanto a sua sexualidade, que não pode em momento algum estar questionada, segundo Ricardo Oliveros, editor de moda da Playboy. A moda masculina aqui ainda tem que lidar com uma série de impedimentos, convenções e barreiras sociais. Sob esses pontos Thiago Ferraz disse que o mercado editorial também ajuda muito pouco. Não existe publicações de moda voltadas para o público masculino. Existem as revistas gays e agora a Playboy começa a ter um foco diferente, mas ainda sim é muito pouco. “Acho que temos que desafiar um pouco o público para tentar levar a moda para frente”, disse Thiago para explicar que não adianta ficar sempre adequando a imagem de moda ao público masculino careta. É preciso forçar de modo sutil uma informação e cultura mais contemporânea. Muito se falou também sobre a Osklen, como um case de sucesso que conseguiu achar um modo – aliando o esporte com elementos brasileiros nada clichês e uma moda bem sofisticada – de introduzir uma nova forma de vestir para o homem. A Osklen tem, sim, seu mérito, merece servir de exemplo, mas adequando as necessidades de cada marca. O problema é que assim como aconteceu na discussão, fica tudo muito preso à marca em questão, esquecendo que fora dela há uma série de outras grifes com trabalho bem relevante e preço bem mais acessível. Aliás, os preços abusivos de muitas das marcas também foi apontado pelos participantes como um fator que impede um crescimento da moda masculina.

CRIATIVIDADE PARA VENDER: COMO CONCILIAR LIBERDADE DE CRIAÇÃO COM AS NECESSIDADES COMERCIAIS DE MARCAS E VEÍCULOS

Ano passado uma das mesas de discussão mais quentes do Pense Moda foi a dos stylists e fotógrafos que acabaram jogando a bola para o lado dos editores, reclamando de falta de espaço nas publicações e de uma certa adequação excessiva ao mercado. Bem, ano passado os editores não estavam lá para se defender e para dar a eles o direto de resposta, a segunda apresentação do segundo dia foi uma mesa composta por fotógrafos, stylists e… Editores. Do lado dos fotógrafos estavam André Passos, Bob Wolfenson e Daniel Klajmic. Representando os stylists Chiara Gadaleta e Letícia Toniazzo. E os editores com Alcino Leite Neto (Folha de S.Paulo), Erika Palomino (Key), Patrícia Carta (Carta Editorial), Paulo Martinez (Mag!) e Susana Barbosa (Elle). Todos mediados pela jornalista Joyce Pascowitch. A discussão novamente se voltou para a questão da cópia vs. originalidade, começando com o uso, as vezes muito literal, de referências. Cinismos a parte, não é novidade para ninguém que elas estão em todo lugar e servem hoje (pelo menos em tese), como Bob Wolfenson disse, como ponto de partida para quase todo tipo de trabalho. A questão era até onde os profissionais e veículos deviam ficar presos a elas e até onde utilizá-las é algo saudável. O assunto é bem complexo e esbarra numa série de questões. A mais óbvia é sobre nossa identidade, e se há mesmo necessidade de usar tantas referências internacionais. Nas palavras de Chiara Gadaleta, isso acontece, pois “somos um país colonizado, onde não há muita tradição própria (pelo menos quanto a moda)”. Erika Palomino vai pelo mesmo caminho, dizendo que justamente por isso, há uma certa insegurança na hora de criar, o que acaba levando a busca de referências ou apoios internacionais. Sem contar que, como bem disse Paulo Martinez, “é uma chatice essa coisa de moda brasileira! Moda brasileira é o que é feito aqui! Temos que ter orgulho do que foi e é feito, seja cópia ou não”. E no fundo é bem verdade. A gente fica tão preocupado em imprimir um padrão internacional – o que é ridículo se comprarmos nossas condições com as dos países da Europa ou os EUA -, que acabamos nos envergonhando do que fazemos aqui. Outro ponto dessa questão das referências foi lembrado por Daniela Falcão colocou: o tempo. Tempo cada vez mais curto que as publicações tem para se planejar o que acaba tirando espaço para experimentações e qualquer trabalho mais bem feito. Nas palavras dela, “buscar referências é um longo trabalho de pesquisa, mas não há esse tempo”. E não só pesquisa, as referências também tem que manter alguma relação com o profissional, como bem colocado por Daniel Klajmic. Hoje a referência é vista muito sob o ponto de vista técnico, meio como que uma obrigação, quando na verdade é algo de repertório, um processo de “construção de universo pessoal, conhecer suas histórias e origens”, como disse Chiara. Aí começa uma outra discussão. A de que se não cabe as revistas ou demais publicações abrir espaço para um moda mais “educacional”, algo menos voltado para o mercado em si, mas algo que contribua para melhorar a cultura de moda da sociedade como um todo. Erika Palomino falou logo no início que cabia as publicações independentes esse papel de romper com o padrão. Mas ainda sim continua uma publicação muito voltada para a própria indústria da moda. O que ficou claro é que de fato faltam publicações que comuniquem moda, disseminem informação e cultura de moda de qualidade para um maior número de pessoas. Os blogs são ótimos para isso, mas não tem todo esse alcance. Os poucos títulos que temos ficam muito focado (e preso) no seu nicho/público, deixando a moda num ciclo vicioso criado, no fundo, por ela mesmo. Não foi agora que a resposta para todas essas questões foi dada, mas só de ter um espaço para poder trocar tantas idéias e possibilitar reflexões bem pertinentes, já mostra que estamos no caminho certo.

MARIANO VIVANCO EM SUA PALESTRA

O segundo dia desta edição do Pense Moda começou com um dos mais aguardados convidados internacionais, o fotógrafo Mariano Vivanco. Para quem nunca ouviu falar ele é um dos mais promissores talentos na fotografia, já tendo feito importantes campanhas para Prada Sports, Dolce&Gabbana, Zegna, Lacoste e Swarovski, sem contar nos vários (e bons) trabalhos para algumas das mais respeitadas revistas de moda do mundo, como Dazed&Confused, GQ, Another Magazine, V Magazine e Vanity Fair.

Mariano começou contando uma pouco de sua trajetória pessoal, como por exemplo quando disse que desde pequeno se interessou pelo mundo da imagens. “Era apaixonado por filmes, principalmente os italianos e Sofia Loren era minha musa”. Ou então que mudou para Nova Zelândia para estudar fotografia, depois mudou para Austrália onde começou a fazer seus primeiros trabalhos, retornando posteriormente para Nova Zelândia já iniciando sua carreira solo até se mudar para Londres. “Queria levar meu trabalho para o mundo”, contou ele para explicar porque, depois de já estabelecido no ramo, decidiu mudar-se para a capital inglesa.

Lá começou como fotógrafo da agência de modelo Select, onde começou a creditar os composites das meninas e meninos que fotografava. Foi assim que entrou em contato com Nicola Formichetti, editor de moda da Dazed&Confused, dando início assim a uma longa parceria. “Nicola sempre me dá mais espaço para experimentações”, contou ele sobre seus trabalhos na Dazed que são muito mais livres do que os da Condé Nast, no sentido de exploração de formas de expressão fotográfica e também para revelar novos talentos – uma de suas paixões.

Mais especificamente sobre seu trabalho como fotógrafo, Mariano contou que costa de abordar vários aspectos de imagem numa mesa matéria ou trabalho. Lógico que nem sempre isso é possível, afinal como ele mesmo disse, “o importante é que o cliente fique feliz”. Mas em trabalho onde encontra uma certa liberdade, aproveita ao máximo para explorar novas técnicas e estilos.
Um exemplo disso é o trabalho em vídeo que Mariano vem fazendo. E não só de backstage ou making of, mas meio que editoriais e matérias de moda em movimento. O que no fundo revela uma grande sensibilidade e adequação as vontades e necessidades de nosso tempo. Afinal, esses trabalhos em movimentos são cada vez mais comum, com o crescimento das revistas onlines e dos próprios sites de grandes revistas.

E olhando num parâmetro geral podemos até começar a questionar se este não seria o perfil ideal do novo profissional. Alguém que consegue imprimir uma certa assinatura própria, ao mesmo tempo que se adequa as exigências do cliente, não fica preso ao próprio universo e mais ainda, consegue sentir as necessidades e vontades emergentes no mundo.

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